sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A corrupção da consciência - Herbert Read


Quando examinamos a situação global das artes plásticas notamos a falta de suportes coletivos para a atividade artística, ausência de uma concepção unificadora-do-mundo , que possa unir espiritualmente o artista ao público. O divórcio entre eles, produziu-se em consequência de causas sociais, econômicas e psicológicas atuando em conjunto. 
Na sociedade, (seja capitalista ou comunista, democrática ou totalitária) cindida em classes antagônicas, dificilmente poderá haver uma concepção comum, uma fé coletiva, da qual todos os indivíduos comunguem e que estabeleça o clima propício à receptividade das obras de arte. Por outro lado, o artista  que conquistou a liberdade de criar e de expressar-se, desvinculando-se primeiramente da tutela da Igreja, e depois do patronato da nobreza a que esteve sujeito do século XVI ao século XVIII, passou no século XIX, a experimentar a servidão decorrente da economia capitalista; que o forçou a produzir para o mercado e a sujeitar-se às leis comuns da concorrência, que pendem tanto sobre os produtos industriais, quanto sobre as obras de arte transformadas em mercadorias. Para conjurar esse grande perigo, o artista solicita e obtém um novo patrocínio, o do Estado (em países totalitários ou comunistas essa prática sempre existiu); que tem, muitas vezes, acarretado o agravamento da servidão econômica pela servidão política. E, assim, em conflito com as potências econômicas e políticas, para não se marginalizar de todo, o artista vende a sua alma aos senhores deste mundo. Ou produz aquilo que o mercado consumidor pode absorver, ou torna-se o dócil porta-voz de uma ideologia política, seguindo as receitas pseudo-estéticas que lhe são fornecidas. Renuncia a si mesmo, renunciando aos imperativos da expressão . Corrompe a sua consciência e a sua arte. Essa corrupção da consciência artística, segundo Herbert Read, consistiria, sobretudo, na dissociação  entre a sensibilidade e o pensamento , que as próprias condições evolutivas da cultura determinaram. Valorizou-se em excesso o pensamento racional, o aspecto intelectual da cultura, em detrimento da imaginação criadora. 
  
Não somente vivemos uma sociedade dividida: vivemos também com a personalidade dividida. A educação da sensibilidade foi esquecida e, mais do que isso, considerada irrelevante no preparo mental do homem.

Inspirado da leitura de "A EDUCAÇÃO PELA ARTE", de Herbert Read. Poeta anarquista e crítico de arte e de literatura britânica. (1893-1968). 
 Desde Platão, ninguém conseguiu defender de modo tão convincente como Herbert Read a tese de que a arte deve constituir a base da educação.


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