Quando examinamos a situação global
das artes plásticas notamos a falta de suportes coletivos para a atividade
artística, ausência de uma concepção unificadora-do-mundo , que possa unir
espiritualmente o artista ao público. O divórcio entre eles, produziu-se em
consequência de causas sociais, econômicas e psicológicas atuando em
conjunto.
Na sociedade, (seja capitalista ou
comunista, democrática ou totalitária) cindida em classes antagônicas,
dificilmente poderá haver uma concepção comum, uma fé coletiva, da qual todos
os indivíduos comunguem e que estabeleça o clima propício à receptividade das
obras de arte. Por outro lado, o artista que conquistou a liberdade de criar e de expressar-se,
desvinculando-se primeiramente da tutela da Igreja, e depois do patronato da
nobreza a que esteve sujeito do século XVI ao século XVIII, passou no século
XIX, a experimentar a servidão decorrente da economia capitalista; que o forçou
a produzir para o mercado e a sujeitar-se às leis comuns da concorrência, que
pendem tanto sobre os produtos industriais, quanto sobre as obras de arte
transformadas em mercadorias. Para conjurar esse grande perigo, o artista
solicita e obtém um novo patrocínio, o do Estado (em países totalitários ou
comunistas essa prática sempre existiu); que tem, muitas vezes, acarretado o
agravamento da servidão econômica pela servidão política. E, assim, em conflito
com as potências econômicas e políticas, para não se marginalizar de todo, o
artista vende a sua alma aos senhores deste mundo. Ou produz aquilo que o
mercado consumidor pode absorver, ou torna-se o dócil porta-voz de uma ideologia
política, seguindo as receitas pseudo-estéticas que lhe são fornecidas.
Renuncia a si mesmo, renunciando aos imperativos da expressão . Corrompe a sua
consciência e a sua arte. Essa corrupção da consciência artística, segundo
Herbert Read, consistiria, sobretudo, na dissociação entre a
sensibilidade e o pensamento , que as próprias condições evolutivas da cultura
determinaram. Valorizou-se em excesso o pensamento racional, o aspecto
intelectual da cultura, em detrimento da imaginação criadora.
Não somente vivemos uma sociedade dividida: vivemos também com a
personalidade dividida. A educação da sensibilidade foi esquecida e, mais do
que isso, considerada irrelevante no preparo mental do homem.
Inspirado da leitura de "A EDUCAÇÃO PELA ARTE", de Herbert
Read. Poeta anarquista e crítico de arte e de literatura britânica. (1893-1968).
Desde Platão, ninguém conseguiu defender de modo tão convincente
como Herbert Read a tese de que a arte deve constituir a base da educação.
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